Santarém em passeio (5)















Mercado Municipal de Santarém
: Azulejos 9 a 12.

se fizeram vela e navegaram

Foram os corpos desenhos de caminhos
traçados no labor dos dias úteis
em vermelhas praias calorosas
em lívidas luas friorentas.
Aprumados cresceram entre penhascos e lonjuras
atentos sempre à inclinação das noites.
Com versos brancos na língua incendiados
acrescentaram pele a outra pele.
Depois veio o deserto e os corpos
aprenderam novas sedes
já não de águas correntes
mas de estrelas.
Do deserto ao dilúvio foi um palmo de vida
e então os corpos se fizeram casco
se fizeram vela e navegaram.
Não se perderam.
Eram eles o mapa da viagem
Licínia Quitério
Encontrei neste lindíssimo poema da Licínia as ideias chave, mas em bom estilo, daquilo que defendo neste lugar que procurarei resumir :

A metafísica remeteu o nosso ser para uma alma distante e anémica e condenou o corpo a cárcere, besta de carga, animal tarado e libidinoso. A metafísica instituiu a origem da ordem ( o monismo), o lugar dos seres e das coisas ( o céu, a terra e as ordens de seres viventes e sensientes) e distribuiu os recursos da Terra a cada um segundo os seu méritos ( a meritocracia de casta, de sangue, de raça que distingue cada um segundo a sua capacidade de saque).
Para o monoteísmo (o capitalismo do sagrado) e o capitalismo (o monoteísmo do mercado) a vida do ser humano não tem que ser fácil e uns terão que ser condenados para que outros sejam salvos. Os caminhos estão traçados de antemão, só há que ler o manual e cumprir os procedimentos.
sedes...)
de águas correntes
Ouvimos, nos dias de hoje, o estertor da metafísica agonizante. Não é uma morte certa e a curto prazo: é uma sucessão de mortes. Primeiro, a morte de deus; depois, os regicídios; agora, a morte do mercado; amanhã... dos amanhãs nada se sabe. A metafísica não morrerá, nem nos deixará em paz, se não retornarmos a uma ontologia topológica e naturalista.

Isto é, enquanto não puderem todos dizer, parodiando Gassett, "eu sou o meu corpo e os meus lugares".
Foram os corpos desenhos de caminhos
traçados no labor dos dias úteis

(...)
Com versos brancos na língua incendiados

acrescentaram pele a outra pele(...)
os corpos se fizeram casco
se fizeram vela e navegaram

E acrescentar: "eu seguirei os meus caminhos". E os corpos
Não se perderam.
Eram eles o mapa da viagem

Poema a reler!

Santarém em passeio (4)















Mercado Municipal de Santarém: Azulejos 5 a 8.

Siga pela Rua Serpa Pinto, atravesse a Praça Sá da Bandeira e tome a Rua Cidade da Covilhã. À esquerda encontrará o edifício do Mercado Municipal. O extenso revestimento de azulejo, datado de 1932/34, é assaz representativo do gosto da época. Os numerosos painéis, produzidos pela Fábrica de Sacavém, apresentam cenas de temática local (monumentos, actividades económicas) de pintura naturalista em azul, molduradas com decoração complexa em azul e amarelo. O frontão sobre a porta principal, proveniente da Fábrica aleluia, apresenta uma cena de mercado moldurada e uma inscrição com a designação “Mercado Municipal”, utilizando as mesmas cores do restante revestimento.

fonte: Câmara Municipal de Santarém

Santarém em passeio (3)















Mercado Municipal de Santarém
(1928, arquitecto Cassiano Branco): Azulejos 1 a 4.

Santarém em passeio (2)

Há uma diferença irredutível entre estar-em e ser-em. O ser-em estabelece uma relação entre o ser-para-si enquanto eu e o sistema de coordenadas que o referenciam; no estar-em prevalece a dádiva e o apego do corpo ao lugar, função sacrificial que funde o eu e o lugar numa só substância.

Assim, caminhei Santarém como um amante que percorre todas as porções do corpo amado, sentindo-lhe o respirar, o pulsar, o estremecer.

No regresso, passei pela Praça Visconde Serra do Pilar com os seus vistosos prédios cobertos de azulejos variegados com mansarda e e sacadas em ferro forjado.

Cortei ali ladeando os Correios e fui dar ao Largo Cândido dos Reis onde se avista, no lado a Sul, a Misericórdia.






Descendo a Avª. Sá da Bandeira lobrigamos ao fundo o Palácio da Justiça e, à sua direita, o Mercado Municipal com os seus maravilhosos azulejos.

Santarém em passeio (1)

O lugar é onde a gente está e o que a gente ama.

Apesar de haver lugares horríveis, de pesadelo, em que de súbito nos acomete o pânico, de onde queremos rapidamente fugir; de haver lugares indiferentes que apenas têm de importante estarem na cercania de outros lugares (são os lugares de passagem); os lugares que interessam são os lugares aprazíveis.

O que torna um lugar aprazível é ter disponibilidade para estar nele. Foi o caso da permanência forçada em Santarém por altura da revisão do carro. É que os olhos só vêm quando andam a pé!

Comecei no Largo do Seminário onde se situa a Bijou, lugar de culto para a bica e o pastel de nata, tão bom que à primeira dentada se pode dizer que é um "pastel de nada".





Embrenhei-me nas ruas do centro histórico à cata de igrejas (do gótico ao maneirista há de tudo).




Fui à Torre das Cabaças e andei a ver o que restava do velho Rosa Damasceno.




Continuei às voltas, mas isso é assunto para outra altura...